Dia 13 de maio se comemora a abolição da escravidão no Brasil. O fato ocorreu em 1888, através da assinatura da famosa Lei Áurea, pelas mãos da princesa Isabel. De lá para cá, este fato gera divisões entre aqueles que comemoram a libertação dos escravos e aqueles que acham que a lei áurea não incorporou o negro na sociedade brasileira, mantendo as desigualdades. Sobre este fato, discutiremos em outra postagem. Nesta, vamos apontar 25 curiosidades sobre a escravidão no Brasil.
Atenção: nós compreendemos que o assunto postado abaixo é delicado e suscita os mais diversos sentimentos em diferentes segmentos da população brasileira. O objetivo não é idealizar o assunto ou torná-lo caricato, apenas abordar os fatos. Optamos, também, por utilizar o termo negro ao termo afro-brasileiro, mais utilizado atualmente.
Esta lista foi extraída e adaptada de diferentes fontes, como mania de história e guia dos curiosos.
– Os primeiros navios negreiros foram trazidos pelo português Martim Afonso de Sousa, em 1532. A contabilidade oficial estima que, entre essa data e 1850, algo como 5 milhões de escravos negros entraram no Brasil. Porém, alguns historiadores calculam que pode ter sido o dobro.
– Os navios negreiros que traziam os escravos da África até o Brasil eram chamados de tumbeiros, devido à morte de milhares de africanos durante a travessia. Estas mortes ocorriam devido aos maus-tratos sofridos pelos escravos, pelas más condições de higiene e por doenças causas pela falta de vitaminas, como no caso do escorbuto.
– É possível traçar a origem dos escravos em três grandes grupos: os da região do atual Sudão, em que os iorubás, também chamados nagôs, predominam; os que vieram das tribos do norte da Nigéria, a maioria muçulmanos, chamados de malês ou alufás; e o grupo dos bantos, capturados nas colônias portuguesas de Angola e Moçambique.
– Quando chegava ao Brasil, o africano era chamado de “peça” e vendido em leilões públicos, como uma boa mercadoria: lustravam seus dentes, raspavam os seus cabelos, aplicavam óleos para esconder doenças do corpo e fazer a pele brilhar, assim como eram engordados para garantir um bom preço.
– Um escravo valia mais quando era homem e adulto. Um escravo era considerado adulto quando tinha entre 12 e 30 anos. Eles trabalhavam em média das 6 horas da manhã às 10 da noite, quase sem descanso, e amadureciam muito rápido. Com 35 anos, já tinham cabelos brancos e bocas desdentadas.
– Os cativos recebiam, uma vez por dia, apenas um caldo ralo de feijão. Para enriquecer um pouco a mistura, eles aproveitavam as partes do porco que os senhores desprezavam: língua, rabo, pés e orelhas. Foi assim que, de acordo com a tradição, surgiu a feijoada.
– A Festa de Nossa Senhora do Rosário, a padroeira dos escravos do Brasil colonial, foi realizada pela primeira vez em Olinda (PE), no ano de 1645. A santa já era cultuada na África, levada pelos portugueses como forma de cristianizar os negros. Eles eram batizados quando saíam da África ou quando chegavam ao Brasil.
– Na cidade de Serro (MG), acontece a maior de todas as festas em homenagem a santa, em julho, desde 1720. De acordo com a lenda, um dia Nossa Senhora do Rosário saiu do mar. Ao ser chamada por índios, não se mexeu. O mesmo aconteceu com marinheiros brancos. A santa só atendeu aos escravos, que tocaram bem forte os seus tambores.
– Crianças brancas e negras andavam nuas e brincavam até os 5 ou 6 anos anos de idade. Tinham os mesmos jogos, baseados em personagens fantásticos do folclore africano. Mas aos 7 anos, a criança negra enfrentava sua condição e precisava começar a trabalhar.
– Cada senhor de engenho tinha autorização para importar 120 escravos por ano da África. E havia uma lei que estipulava em 50 o número máximo de chibatadas que um escravo podia levar por dia.
– A cozinha era muito valorizada na casa-grande. Conquistaram o gosto dos europeus e brasileiros os pratos de origem africana, como vatapá e caruru, comuns na mesa patriarcal nordestina. A cozinha ficava num anexo da casa, separada dos cômodos principais por depósitos ou áreas internas.
– Normalmente, divisões internas da senzala separavam homens e mulheres. Mas, algumas vezes, era permitido aos poucos casais aceitos pelo senhor morarem em barracos separados, de pau-a-pique, cobertos com folhas de bananeira.
– Aos domingos, os escravos tinham direito de cultivar mandioca e hortaliças para consumo próprio. Podiam, inclusive, vender o excedente na cidade. A medida combatia a fome do campo, pois a monocultura de exportação não dava espaço a produtos de subsistência.
– Quando a noite caia, o som dos batuques e dos passos de dança dominava a senzala. As festas e outras manifestações culturais eram admitidas, pois a maioria dos senhores acreditava que isso diminuia as chances de revolta.
– Com a expansão das cidades, multiplicam-se escravos urbanos em ofícios especializados, como pedreiros, vendedores de galinhas, barbeiros e rendeiras. Os carregadores zanzam de um lado a outro, levando baús, barris, móveis e, claro, brancos.
– Escravos de Ganho eram escravos que tinha permissão de vender ou prestar serviços na rua. Em troca, ele deveria dar uma porcentagem dos ganhos a seu dono.
– Em algumas regiões, os escravos africanos eram divididos em três categorias: o “boçal”, que recusava falar o português, resistindo à cultura europeia; o “ladino”, que falava o português; e o “crioulo”, o escravo que nascia no Brasil. Geralmente, ladinos e crioulos recebiam melhor tratamento, trabalhos mais brandos e perspectiva de ascenção social.
– Os negros nunca tiveram uma atitude passiva diante da escravidão. Muitos quebravam ferramentas de trabalho e colocavam fogo nas senzalas. Outros cometiam suicídio, muitas vezes comendo terra. Outros, ainda, entregavam-se ao banzo, grande tristeza que podia levar à morte por inanição. A forma comum de rebeldia, no entanto, era a fuga.
– Segundo alguns historiadores, a capoeira nasceu de um ritual angolano chamado n’golo (dança da zebra), uma competição que os rapazes das aldeias faziam para ver quem ficaria com a moça que atingisse a idade para casar. Com o tempo, a prática se transformou em exibição de habilidade e destreza.
– A palavra capoeira não é de origem africana. Ela vem do tupi (kapu’era). Trazida para o Brasil por intermédio dos navios negreiros, a capoeira foi desenvolvida nos quilombos pernambucanos do século XVI. As características de luta e dança adquiridas no país podem classificá-la como uma manifestação cultural genuinamente brasileira.
– O berimbau é um instrumento de percussão trazido da África (mbirimbau). Ele só entrou na história da capoeira no século XX. Antes, o instrumento era usado pelos vendedores ambulantes para atrair os clientes. O arco vem do caule de um arbusto chamado biriba, comum no Nordeste, que é fácil de envergar.
– Até a abolição da escravatura, a lei punia os praticantes de capoeira com penas de até 300 açoites e o calabouço. De 1889 a 1937, a capoeira era crime previsto pelo Código Penal. Uma simples demonstração dava seis meses de cadeia. Em 1937, o presidente Getúlio Vargas foi ver uma exibição, gostou e acabou com a proibição.
– Após a independência de Portugal, em 1822, uma das primeiras medidas do governo foi proibir que alunos negros frequentassem as mesmas escolas que os brancos. Um dos motivos apontados é que temiam eles pudessem transmitir doenças contagiosas.
– O movimento abolicionista tinha mais de 60 anos quando a Lei Áurea foi assinada, em 1888. Mobilizava muitos intelectuais da época, como escritores, políticos, juristas, e também a população de uma forma geral.
– Em 1823, dom Pedro I chegou a redigir um documento defendendo o fim da escravidão no Brasil, mas a libertação só ocorreu 65 anos depois.
“”’Da região do atual Sudão, em que os iorubás, também chamados nagôs, predominam””””
E ESTA OUTRA VERSÃO???????
As comunidades iorubas que se desenvolveram principalmente no sudeste da atual Nigéria constituíram um dos grandes centros civilizatórios da Guiné e chegaram a influenciar outras civilizações da região, como o reino de Benin. Esta irradiação cultural não se restringiu apenas ao continente africano.
A maioria dos iorubás vivem em grande parte no sudoeste da Nigéria; também há comunidades de iorubás significativas no Benin, Togo, Serra Leoa, Cuba e Brasil. Os iorubás são o principal grupo étnico nos estados de Ekiti, Kwara, Lagos, Ogun, Ongo, Osun, e Oyo. Um número considerável de iorubas vive na República do Benin, ainda podendo ser encontradas pequenas comunidades no campo, em Togo, Serra Leoa, Brasil e Cuba.
Milhares de iorubas escravizados foram desembarcados no Brasil, fecundando a cultura e a história do nosso país. Uma explicação plausível sobre a gênese do povo ioruba, seria as diversas migrações através das regiões entre o Lago Chade e o Níger.
Muito bom!
Só acho que faltou o crédito das ilustrações.
obrigado.
ótimo, me ajudou muito no meu trabalho da escola!
Ótimo material. Estão de parabéns!!! :)
Entre as doenças “pegas” nos tumbeiros estava a hiponatremia. O trafico de escravos era como qualquer empresa: algo capaz de gerar lucro, quase todo espaço disponivel do tumbeiro era dedicado a gente, água doce e comida. Por tentativa e erro,viram que o grande espaço ocupado pela agua poderia ser trocado por gente se cada pessoa bebesse menos. E isto era alcançado com uma dieta com pouquissimo sal. Uma coisa ironica, as pessoas sofriam dentro do tumbeiro com falta de sódio, quando em torno do navio, abundava sódio. O cativo que fosse pego, molhando comida no mar era cruelmente castigado. Como morriam muitos na travessia por falta de sal, só chegavam a América quem tinha rins especialmente ávidos por sódio. É Darwin na veia! Um fato que muito intrigou os médicos até poucos anos era por que a hipertensão arterial é tão mais maligna em negros na America (Alasca até Argentina) que em brancos ou que em negros na Africa. Genetica familiar, estresse da vida urbana ou comida de MacDonald não explicavam a coisa. Agora já sabemos por que colhemos problemas graves de Saúde Publica hoje, por praticas injustas do passado escravagista “distante”.
O escravo era uma mercadoria de status, como um automóvel hoje.
Quem era livre ,mas pobre, só sonhava possuir um.
Quem tinha mais posses, possuia um. Trabalhava sol a sol com ele, e dedicava os mesmos cuidados médicos que dedicava a ele, ou seja ia em uma benzedeira.
Subindo um pouco mais na injusta pirâmide social brasileira estavam aqueles capazes de de ter mais de um escravo e que também tratava relativamente bem o escravo, talvez pagando um médico, porque comprar um escravo novo poderia sair mais caro.
O tratamento pior era , como o dispensado aos automóveis hoje, o dos ricaços, capazes de capotar um carrinho zero quilometro só porque pode comprar mais 3 para substituir. Aqui podia existir o sadismo se ele não percebesse que sua riqueza dependia de escravos saudáveis bem nutridos.
Tb acho injusto não citar os outros europeus nao-portugueses como traficantes transatlanticos e os árabes que inventaram o trafico transaariano e Indico em massa de africanos. Na Inglaterra nasceu o movimento abolicionista, mas desde a IdadeMédia, Bristol era importante porto-mercado de escravos inclusive escravos brancos. Desde Neolitico que o destino dos derrotados em batalha, capturados vivos era a escravidão e antes era a morte mesmo. Ha muita coisa interessante sobre a escravidão de brancos na Europa Medieval apesar da Igreja. Quanto a Africa como fonte intercontinental de escravos, o que muda quando comercio de gente muda de árabes para europeus são duas coisas:
a) Os europeus davam armas de fogo aos reis africanos em troca dos cativos, isto gerou uma bola de neve ou ciclo vicioso. Mais armas de fogo> vitorias mais fáceis, mais prisioneiros vivos, mais exportação de gente, mais armas de fogo. E se algum rei africano, se recusasse a isto , o rei seu rival , não se recusaria e nosso rei seria passageiro no proximo tumbeiro.
B) Aqui na America, com a escravidão sendo baseada na cor da pele, nem mesmo o escravo se alforriando, se cristianizando ou ele mesmo se tornando um senhor de escravos , ele seria tratado igual ao branco livre e técnica do Michael Jackson para trocar de raça não existia
Para Maria Maia. O país atual que fica ao sul do Egito se chama Sudão. Mas o termo era originalmente sinônimo de Sahel. Sudão e Sahel são palavras árabe que significam “negro” e “borda/beirada”.Beirada do deserto. Refere-se a grande região de savana e semideserto logo ao sul do deserto do Sahara que vai do leste ao oeste da Africa.E que era considerado “país dos negros”. Ás vezes para evitar confusão é melhor se referir a região onde surgiram os grandes reinos negros nigercordofonianos, não-bantos, exportadores de escravos como Sudão ocidental para diferir do atual Sudão (que seria oriental).
Queria falar para algumas pessoas que apenas gostam de história, mas não tem nenhum embasamento teórico, que antes de fazer suas críticas, leiam ao menos um livro, como o casa-grande e senzala de Gilberto Freire.
Esse resumo está ótimo. Parabéns!!!
Evidente que o comércio de escravos é tão antigo como o neolítico, todos conhecemos a importância da escravatura na antiguidade clássica (diminuiu na Id. Média). Tb é evidente que havia um comércio esclavagista florescente em África (sobretudo no Indico feito por muçulmanos) antes dos portugueses do sec. XVI. No entanto a mundialização do comércio significou tb a mundialização da escravatura, a qual atingiu números imensos, e como português não me orgulho do papel que alguns portugueses do passado tiveram nisso. No entanto o filho de colono branco português e de escrava não era escravo. E se o Nordeste permaneceu brasileiro com a vitória dos portugueses contra os holandeses no sec. XVII foi porque muito «coronel» combateu à frente de dezenas de filhos.