Já virou longa tradição comemorar a implantação do sistema republicano no Brasil, sendo que temos um feriado que se repete todos os anos, no dia 15 de novembro. Porém, vale ressaltar que a nossa república iniciou com um golpe de Estado que destituiu do trono o imperador D. Pedro II.

Naquele contexto, como bem lembra o historiador José Murilo de Carvalho, o jornalista Aristides Lobo disse, em frase que ficou famosa, que “o povo assistiu àquilo (a proclamação) bestializado, atônito, surpreso […]”. Uma verdadeira ironia, considerando a origem do termo “res publica”, derivado do latim, como “coisa do povo”.

Brasil entre golpes …

A Proclamação da República pelos militares iniciou, no país, uma longa tradição de golpes de Estado e momentos de instabilidade política e institucional que já dura 130 anos. Afinal, de 1889 até hoje, já foram cinco golpes consolidados, sem considerar as inúmeras tentativas que não se concretizaram.

Dentre as que lograram êxito, logo após o golpe de 1889 temos o Golpe de Três de Novembro, de 1891 – considerado um autogolpe do presidente Deodoro da Fonseca –, que resultou na primeira ditadura brasileira, iniciada algumas semanas depois pelo Marechal Floriano Peixoto.

A subida de Getúlio Vargas ao poder também ocorreu com um golpe – chamado por alguns de revolução – que impediu a posse do presidente eleito Júlio Prestes, em 1930. Aliás, Getúlio também perpetrou um outro golpe, este em 1937, que culminou na ditadura que ficou conhecida como Estado Novo (1937-1945).

… e crises sem fim

Em 31 de março de 1964, um golpe civil-militar iniciou um longo período de governos militares, com cinco generais no poder entre 1964 e 1985. Para o historiador Marco Antonio Villa, o golpe de 1964 ocorreu devido a uma longa tradição de golpes e tentativas de golpes já destacados anteriormente.

Mas nem só de golpes padece a frágil república tupiniquim. Os números dos últimos 90 anos assustam pela oscilação política e instabilidade institucional. Afinal, de 1926 até hoje, de 25 presidentes que o país já teve, apenas 5 (cinco!) conseguiram concluir integralmente o seu mandato.

E a república continua sofrendo com sucessivas crises políticas. A “coisa do povo”, iniciada na Roma antiga, permanece restrita ao jogo de forças disputado como verdadeira guerra política pelos “donos do poder” – ou estamento burocrático –, como   bem apontou o sociólogo Raymundo Faoro.

Se o povo continuará assistindo bestializado, atônito e surpreso, só o tempo dirá.