Este artigo é de total responsabilidade do autor e foi escrito por Noé Gomes, professor da rede pública estadual do Rio Grande do Sul e editor do Portal Falando de História. Outros artigos do mesmo autor:

Internet: um meio ou um fim?

Vivemos uma época de virtualização. Na segunda metade da década de 1990, o filosofo francês Pierre Lévy escreveu diversas obras que tratam deste processo. Destaco “O que é virtual?”, em que Lévy faz uma discussão filosófica bastante necessária sobre este conceito e suas relações. As suas primeiras considerações são enfáticas neste sentido:

 […] a palavra virtual é empregada com frequência para significar a pura e simples ausência de existência, a “realidade” supondo uma efetuação material, uma presença tangível. O real seria da ordem do “tenho”, enquanto o virtual seria da ordem do “terás” ou da ilusão, o que permite geralmente o uso de uma ironia fácil para evocar as diversas formas de virtualização […] (LÉVY, p.15)*.

O autor, ao divergir da pretensa dicotomia entre real e virtual, propõe uma análise do efeito do novo. Se filosoficamente, “[…] o real assemelha-se ao possível; em troca, o atual em nada se assemelha ao virtual […]” (p.16). Este mundo real é colocado como um resultado e que como tal deve ser transformado em uma nova realidade futura.

Internet: Um meio ou um fim

Nesta reflexão interdisciplinar entre a Filosofia e a História é importante ressaltar que este fenômeno que, para Lévy, é denominado processo de virtualização leva à abstração real das coisas. O que não cabe ao historiador é  julgar seus méritos e possibilidades de verificação, e sim buscar alguma resposta para as causas deste acontecimento, seu sentido no processo, e sua ampla utilização, fenômeno ocorrido em muito pouco tempo.  Vivemos em tempos em que cada vez mais o virtual está presente em nossas vidas compras via internet crescem cada vez mais, os vales transporte estão num cartão e não mais em fichas ou bilhetes, enfim são inúmeros fatos que corroboram para uma virtualização das relações.

Como historiador penso que é preciso refletir seriamente sobre isso. Primeiramente o processo de virtualização abre-nos a possibilidade de novas formas de inserção do conhecimento. Para nós educadores enriquece o nosso trabalho, primeiramente pelo fato de estarmos acelerando a transmissão das ideias mas também a proposição  de ser um desafio para  nós. Como fazer por exemplo, um blog um instrumento educativo e ao mesmo tempo atrativo? Em suma, a internet  nos impõem a atualização e neste sentido é muito salutar este recurso.

Poderia colocar uma gama de argumentos pró uso da internet e de outros recursos tecnológicos tanto para o campo da pesquisa como para a educação. Mas de nada valeria, se não tivermos em mente uma coisa: os recursos são meios e não fins! Ou seja, enganam-se que as tecnologias vão substituir os professores e pesquisadores. Se é verdadeira que a virtualização é um processo presente no século XXI também é verdadeiro que é necessário cuidado naquilo que está disponível por ai. Processadores potentes não são capazes de formular proposições historiográficas por exemplo.

Escrevo tudo isso, pois sinto que há aparentemente um esvaziamento da nossa juventude. Como professor da rede pública no Rio Grande do Sul vejo muitos olhares dizendo que precisam de algo que desconhecem e que os tornam vazios. Talvez esquecemos para as nossas formações são necessários meios e que estes são como caminhos e não o fim. A virtualização está ai, mas também precisamos não combate-la mas humanizá-la.

* LÉVY, Pierre. Cibercultura. Editora 34, 1997.